Final do conto – O homem que tecia ventos

Junto à linha do equador concebeu outros ventos que logo se encaminharam para os trópicos, chamou-lhes ventos contra-alísios. Na Ásia os ventos que se formaram começaram a soprar, uns do mar para o continente, outros do continente para o mar; a esses chamou monções.

Assim, dia após dia, foi criando ventos por todos os continentes e mares.

Já muito velho o homem que coleccionava ventos pôs ao pescoço o seu cachecol vermelho, deixou-se cair em cima do ventre do ar que ainda lhe sobrava preso no curral e com um certeiro golpe de agulha de tricôt desamarrou-o das cordas que o prendiam. Segurou-se em cima do ar, curvado, duas grossas agulhas de tricôt espetadas no ventre do ar, qual Zeus em cima do magnífico Pégasus.

Abriu o portão da garagem com o comando universal, segurou-se com força e esperou. O ar arrancou esmigalhando o que lhe aparecia à frente como mil cavalos selvagens, numa cavalgada demencial, em todas as direcções.

O homem voou desvairado pelas cinco partes do mundo, deu a volta ao mundo duas vezes, encontrando-se nos mares, nas montanhas secas e áridas, nas planícies, acomodando-se a umas zonas e fugindo a toda a velocidade de outras, reencontrou os ventos que plantara nos vários continentes forjando as diferentes formas que hoje têm de se comportar hoje em dia em cada sítio específico.

Alguns ventos fixaram-se num sítio, outros continuam a circular em liberdade pelo mundo, não se deixando aprisionar a padrões, obedecendo apenas à pressão atmosférica ou às formas de relevo de cada região. Os mais irrequietos e desassossegados transformaram-se permanentemente em ventos, outros, mais calmos, só se transformam em ventos em determinadas estações do ano.

Fim

Nunca mais ninguém ouviu falar do homem que criou os ventos. Apenas, às vezes, alguém insiste em afirmar ter visto um homem de barbas brancas e cachecol vermelho sentado em cima de um furacão, mas, claro, ninguém acredita. Toda a gente sabe era completamente impossível um homem usasse alguma vez, em redor do pescoço, um cachecol de cor vermelha.

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