O Complexo de Portnoy- Roth


Este livro mais parece um sonho delirante. E, no entanto, vivem nesse sonho delirante personagens tão certeiras como a mãe de Portnoy. Aquela família podia servir, em maior ou menor grau, de protótipo a milhares de famílias com a mãe coruja e o pai apaziguador.
E quanto a Portnoy, o que dizer?
É uma personagem obsessiva, despudorada, cuja vida se rege pelo Deus sexo da forma mais prosaica possível, isto é, com a voracidade de um leão. Dir-se-ia que este livro não deixa nada à imaginação, e no entanto, é um livro obsessivo. É uma ideia comum dizer que mostrar tudo não deixa nada à imaginação. Esta personagem prova o contrário. Este livro nasce num terreno esgotado, e mesmo assim não retira a imaginação, obriga-a é a funcionar à superfície e de outra forma. Trata o sexo de forma visível. A imaginação trabalha doutra maneira, sobre outro tipo de materiais. Excita-se a pensar nas mil maneiras de fazer sexo com esta, e com aquela, e com a outra, e com as diferenças entre elas, e com o que cada uma faz, e como se sente, e com os remorsos por ser um hipócrita porque passa o tempo dedicado unicamente ao Deus sexo.
E nem a conquista o excita. Quanto menos trabalho melhor, o ideal como se vê com a macaca, é dizer sim e irem para a cama.
Um livro que se lê de uma assentada porque está muito bem escrito, com personagens extremamente bem modeladas e ricas e uma personagem principal que por mais que nos diga está cheia de remorsos, não parece nada que esteja. É hilariante. E como digo fica-se com a ideia de que retrata um sonho doido, que não é para levar a sério. O que só nos pode querer dizer que é para levar ainda mais a sério.

Deixe um comentário