Louise Gluck- A Íris Selvagem

Soam neste livro várias e diferentes vozes e mensagens, quase se pode dizer mensagens autorais na medida em que a mensagem personifica, a fala é fala de alguém, a fala faz-se ser, ao falar-se. Esta personificação das mensagens perpassa todo o livro e é inaugurada pelo próprio título – íris selvagem remete para a “mensageira”, “a que leva mensagens pela palavra”, a que anuncia, símbolo da ligação entre o céu e a terra. Mas também de ligação entre vivos e mortos, efémero e eternidade, homem e natureza e Deus, mensagens de um todo, de uma universalidade do humano que fala, que se fala, como se mensagens da humanidade, o que é dito tem a ver com o pulsar do que é de todos na humanidade, universalidade.

Observamos umas vezes a voz de Deus tecendo comentários sobre a sua criatura, outras vezes a voz da criatura, ora clamando por Deus, ora observando o seu silêncio, ora identificando-se com a própria natureza. Há uma ligação entre mundos, o mundo dos mortos, do nada, da eternidade, de Deus, e uma escada permitindo a passagem de uns mundos para os outros. Por vezes ouve-se uma voz que parece de um ser intermédio -um anjo? – que observa os humanos de um ponto de vista não divino, mas superior ao humano. Em outros poemas a morte é uma passagem a partir da qual o nosso ser desabrocha em toda a sua totalidade, unindo-se ao universo, sendo universo. Há um contacto com o universo, com o sofrimento – “capaz de sentir a seiva borbulhante” -, uma profunda ligação do indivíduo com a terra, o universo, um destino comum.

Um livro diferente, que tem de ser lido com grande acuidade e paciência, para se ir descobrindo as suas diferentes vozes naquele marulhar ascético, seres surgindo do nada, falando e desaparecendo como vagas do mar, vozes ascéticas, depuradas, despojadas, quase frias, universais.

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