
Mais um interessante livro do autor do mundo como vontade e como representação. As estratégias que Schopenhauer postula para se ter sempre razão são as velhas falácias que já vêem de Aristóteles, mas ele dá-lhes um toque muito pessoal, através de exemplos da sua lavra; mas continuam a ser as velhas falácias. O que o autor faz, certamente por ironia, é que habitualmente os autores identificam as falácias como erros de que se deve fugir, mas o mestre dos mestres concedendo que o homem é naturalmente obstinado, para quem o erro a existir se acha no pensamento do outro, decidiu mostrar estes estratagemas como modo de ganhar qualquer refrega verbal, mesmo sem ter razão.
Schopenhauer diz ao mundo, tendo em conta que o que pretendem é ganhar por qualquer meio, então aproveitem e usem estas estratégias falaciosas para ganhar sem ter em conta a verdade.
Mais original é o texto sobre o fundamento da moral com os motivos anti-morais, nomeadamente o egoísmo, a que contrapõe a seguir a piedade como fundamento moral. É um texto breve, mas muito elucidativo do pensamento do autor e onde se percebe bem a influência que teve em outros autores; lembra, nomeadamente alguns posicionamentos de Tosltoi. Não há dúvida que a piedade é uma das variáveis que fundamenta necessariamente a moral, sobretudo, parece-me, em termos de uma visão prática. Original, talvez até visionário, é o texto em que o autor de Parerga e Paralipomena expressa as suas preocupações com a forma como os animais são tratados pelos humanos e mostra como esse tipo de tratamento é a manifestação de um certo tipo de desenvolvimento moral, ou a sua ausência.
Um livro que se lê com muito gosto, tanto pelas ideias sempre ricas que o autor defende, como pela forma como alicerça o seu pensamento numa escrita lúcida, inteligente, mordaz, metaforicamente elucidativa e clara.