Schopenhauer- Sobre o sofrimento do mundo

Duas razões para ler este, ou qualquer livro de Schopenhauer: a escrita lúcida, escalpelizadora, inteligente, sagaz, profunda e simultaneamente clara, brilhante e transparente, sem truques, sem ilusionismo, sem manigâncias esquisitas que fazem os tolos passar por sábios. Depois, a possibilidade rara de ver alguém ser capaz de, à nossa frente, ter um pensamento e levá-lo às ultimas consequências sem se esconder, sem ter medo de ser radical, impróprio, estranho, ou contraditório. É como respirar um pouco de ar puro, é de algum modo voltar a casa. Só os mestres dos mestres são capazes de escrever assim um pensamento próprio ao ar livre. E isto nem tem a ver com concordar ou discordar das suas teorias, é apenas realmente refrescante ver alguém ser capaz de, certo ou errado, dizer ao que vem, sem subterfúgios. Isto sempre foi raro, mas atrevo-me a dizer que hoje é ainda mais raro. Por isso aprecio reler Schopenhauer. Por isso, e porque é sempre interessante ver mais uma vez o mestre dos mestres a metralhar tudo e todos em todos os sentidos.
Este é um livro breve, mas denso, os capítulos podem ler-se de forma aleatória, cada capítulo trata o seu tema específico. Começando pelo pior de Schopenhauer, o capítulo intitulado Das mulheres. Há pouco a dizer, lê-se com sofrimento, um conjunto deprimente de ideias estapafúrdias que para desgraça da humanidade eram comuns na altura e que merece ser lido na medida em que aumenta a nossa humildade, se um génio foi capaz de dizer tanto disparate junto, isso deve servir-nos para perceber o que por vezes dizemos julgando estar a dizer coisas muito acertadas. Nem merece uma análise, até porque o que diz é mais ou menos os mesmos disparates que se diziam naquela época histórica em que, vá-se lá saber a razão, se afirmava com seriedade coisas como que as mulheres não eram capazes de atingir o pensamento abstracto. E não vale a pena perder mais tempo com estes disparate
Escolhendo o último capítulo: Do pensamento pessoal. Este sim, do melhor de Schopenhauer, ideias diferentes, inovadoras e pertinentes, ditas com belas imagens profundas e certeiras.
Os primeiros capítulos sobre o sofrimento, a vida humana, a afirmação e a negação da vontade de viver, a definição da coisa em si e da indestrutibilidade do nosso ser são já alguns conceitos chave da sua teoria mais vasta que ele vai desdobrando para nós, seus leitores, como um tapete, da forma mais harmoniosa e simples. É um livro que se lê com relativa facilidade; bem, é Schopenhauer e é filosofia.

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