
Era uma vez um reino longínquo, escondido atrás de umas altas montanhas, escondidas atrás de umas montanhas ainda mais altas – um sítio onde nem Judas perdeu as botas porque nem Judas conhecia tal destino. E, se conhecesse, por certo, teria perdido as botas antes de lá chegar.
Qualquer raro viajante que, saberá Deus a razão, viajava para aquele reino, era visto muito antes de lá chegar. Antes mesmo do viajante por um pé no circunscrito domínio do reino já os olheiros haviam dado a notícia. Os viajantes eram velhos mercadores sem eira nem beira que amavam mais o caminho de pedras e escarpas que o negócio. Era inevitável, acercar-se um desses mercadores a rever aquele reino desolado de longe a longe.
Tirando estes raros mercadores, nenhum forasteiro procurara aquelas paragens nos últimos sessenta anos.
Mesmo assim, o rei daquele reino longínquo vivia preocupado com um possível ataque em larga escala perpetrado por desconhecidos.
É verdade que, desde que fora coroado rei, há 24 anos atrás, nunca acontecera surgir um visitante nas imediações do reino, mas ninguém podia ter a certeza tal não viesse a suceder. A possibilidade de acontecer um ataque criminoso perpetrado por forasteiros indesejáveis era uma realidade eminente que o rei levava muito a sério e não o deixava dormir descansado, por isso os seus soldados palmilhavam permanentemente as fronteiras do reino e outros soldados asseguravam com binóculos de longo alcance que ninguém se aproximava sorrateiro daquele reino.
A preocupação do rei, com os anos, foi crescendo, até se tornar uma obsessão, ao ponto do rei lhe dedicar todo o tempo livre e conceber constantemente novas regras para punir esses hipotéticos estrangeiros que viriam roubar-lhe o poder.