Fim do conto O dorso da vida

História de um amor

A rapariga encontrou o rapaz a jogar à bola. A rapariga passava muito tempo a ver o rapaz jogar, mas nunca ganhou coragem para falar com ele. O rapaz era o mais franzino e o mais feio. Ela sabia ele havia de ser para ela. A rapariga naquele tempo era bonita e o rapaz nunca acreditaria ela pudesse amá-lo e por isso reparou na beleza dela só de raspão, sem nem por sombras desconfiar poderia ser por ele que ela vinha ver o jogo.

Entretanto, a rapariga mudou de emprego, esqueceu a escola e o campo de jogos nunca mais ficou a caminho do seu trabalho. Quando voltou a passar pelo campo, já o rapaz vinha na sua mota Zundap dos bairros pobres, sujos e degradados inventar palavras que o inventavam enquanto trabalhava nas obras.

A rapariga vinha do mal de dentro, do mal sem pobreza, da gente que se esmaga por ódio a si mesmo e por incapacidade de se dar, encontrando alívio no mal que faz aos outros, mesmo quando os outros são os seus.

O rapaz encontrou a rapariga já ela trabalhava na pastelaria. O rapaz viu que ela era feita para o amor dele porque já não mantinha traços da juvenil beleza, e o corpo era uma espécie de chaga em carne viva, cheia de papos. Ela viu da padaria onde trabalhava a servir o pão que ele ia lá demasiadas vezes e a olhava de certa maneira, franzino e feio como devia ser o amor dela.

O rapaz sentiu-se condoído com a dor que intuía nos olhos grandes e aguados da rapariga.

A rapariga recebia todos os dias antes de se deitar uma carta do universo no bico de uma gaivota e à noite voava com as gaivotas rente ao mar e deitava-se com as andorinhas.

O rapaz foi ficando cada vez mais tempo na cafetaria, sorrindo, fazendo conversa de circunstância até ganhar coragem para a convidar a dar uma volta na sua Zundap.

Ele agora ajuda-a a colar beleza no corpo e a calar as mil bocas. Não têm segredos um para o outro. São uma só e a mesma pessoa.

Mudaram-se para o complexo do alemão e lá viveram felizes durante  um ano, até um dia vir um tornado e foder aquilo tudo.

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