
O primeiro pensamento que me vem à cabeça depois de ler este livro é o de que está muito bem escrito. As situações mais subtis ou complexas são descritas de uma forma tal que parece as estamos a ver à nossa frente. Não sei se poderá chamar-se escrita cinematográfica, mas algo parecido com isso acontece neste livro.
Trata-se de um livro simples, bem delineado, onde os complexos ventos da vida acontecem, digamos assim, na vertical, vão-se sucedendo por dentro do indivíduo, enquanto ele vai vivendo em termos horizontais, de acordo com a sequência de acontecimentos. Acontecimentos esses que não são muitos, só que, como acontece a todos nós, os poucos acontecimentos da vida fazem revoluções no que somos, e mais por dentro que por fora, é o que acontece à personagem principal do livro que em pouco tempo, com o comando do barco, passa a linha de sombra da juventude com a sua moral, a que podemos chamar um pouco absoluta, as suas ilusões e a ideia que sabe tudo, ou, pelo menos que está preparado para tudo, para uma maturidade sem ilusões e uma humildade que as provações demonstraram ser o caminho mais acertado. E tudo aconteceu em pouco tempo e no meio do mar.
Um livro simples em que o autor maneja como poucos esse material subtil e de extrema complexidade que é o processo de mudança em nós. Um grande livro, muito bem escrito, e com um notável conhecimento do assunto por parte do autor, ou não tivesse ele próprio sido marinheiro.