
Marguerite Duras tem uma escrita que serve de contraponto ao visível e ao concreto, areia a fugir das mãos. Desenvolve-se no captar do indizível, do invisível, do imaterializável. Escrita simples, concisa, contida, que se abre para dentro, cada palavra um clarão, talvez a palavra certa seja aparição.
Quase sempre, como neste livro, fala da impossibilidade de captar o amor, de o dizer, de o agarrar, do que é e do que fica do amor.
Neste caso narra a história dois casais, o da própria narradora e do Captain e de sua mulher Emily L. que a narradora vê a beber num bar. É só isto, e palavras que vão apanhando na sua teia pedaços desses amores, alguma raiva, perplexidade reflexão, algum encontro, muito desencontro, e caminhos que vão ganhando contornos num desejo de abarcar o que foge, o fim, a dor do fim, o medo do fim, seja o fim das relações ou da própria vida.
Uma escrita encantatoriamente simples, quase poética, dizendo, dizendo-se e fixando a história por sucessivas vagas que vão e vêem numa maré que transporta à praia os destroços de uma história que se vai sabendo com a maré, ou não estivessem num bar junto ao mar. É tudo muito vago, nada se sabe de concreto, nem isso é muito importante, Emily poderá estar a morrer, ou apenas a deixar-se morrer, poderá ser louca, ou simplesmente uma mulher misteriosa que não há definição que agarre totalmente. Há ainda um poema perdido, a relação com a escrita e a bebida.