
imagens saltam para o caderno
imagens que vão da chuva ao céu
penduram-se nas varandas
desenham um ser que não sou eu
a palavra dança sobre as águas
parindo camelos de forma circular
gaivotas sem pulmões a cantar
furam as orelhas das águas do mar
imagens de partilha incandescente
ferros na barriga da consciência
martelos a forjar a luz na alma
adormeço na cama da resistência
as casas parem estradas felizes
os céus colam às entranhas
e há uma história de pessoas infelizes
onde o amor perde e tu ganhas
o meu leito permanece metafórico
as imagens desprendem-se da mão
penduro-me aos ombros gongórico
do poema que fiz deslizar no corrimão
o candeeiro acendo nesse lugar escuro
as imagens não param de contentes
há bonecos articulados a sorver água
e eu deslizo de faca nos dentes
as imagens galgam para o caderno
insólitas brutas líquidas
embrenho-me no corpo mais ermo
demoro a deixar me inundem as bestas