
Poeta militante no coração da vida, das flores dos amores, poeta militante em todos os sentidos, no sentido de fazer política e no sentido de cantar sempre por todos e para todos. A sua íntima convivência com o humano em cada um de nós vai ao extremo de andar pelas ruas vestido de vidro/para que todos possam ver na minha alma/a dor comum finalmente revelada.
Em quanto escreve grita contra a injustiça e a fome. Perpassam continuamente nesta poesia o romântico com suas belas metáforas e o neo-realista com seus gritos de desaprovação, mas de uma forma tão consciente que por vezes se glosa a si próprio e ironiza com as suas metáforas.
O desejo de lutar por um mundo melhor confunde-se com uma ideia de homem, nós somos o que faremos de nós: a realidade não é o que vejo/mas o que imagino/ para ser verdade.
Esta ideia que o ser humano é aquilo que se construir remete para a ideia da esperança sempre presente, aliás esta é uma poesia de esperança, alegria, inquietação e rebeldia, diálogo permanente entre um eu social e um eu individual.
Tudo serve para tema, tudo o poeta transfigura em palavra. José Gomes Ferreira era uma nuvem de dor a arder pela humanidade, nuvem que ele tanto fazia subir aos céus, como descer aos abismos, ou tornava simplesmente nuvem de palavras e escondia em gavetas com outras nuvens. Um poeta para sempre porque soube cantar o que queria cantar num canto cuja expressão se eterniza na mármore sem modelo da palavra.